quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A questão da terra encerra o Cine Encontro 2008


O debate de "Esse Homem Vai Morrer - Um Faroeste Caboclo" foi pautado pela questão da terra e da urgente reforma agrária, um dos temas centrais do filme. O mediador Eduardo Souza iniciou a conversa com o diretor Emilio Gallo e o padre Ricardo Rezende falando da violência no sul do Pará. A região é marcada por conflitos pela posse da terra, em especial no município de Rio Maria, retratado no documentário.
- Não há vilões e mocinhos. Existe uma situação de violência grave e nada é feito a respeito - explicou o padre Ricardo, ameaçado por fazendeiros locais nos anos 90.

O diretor Emilio Gallo ainda elucidou algumas escolhas, como não falar do assassinato da religiosa norte-americana Dorothy Stang ("Ia parecer que estávamos querendo nos aproveitar"). Ele finalizou o último bate-papo do Cine Encontro 2008 esclarecendo a missão de seu filme.
- O papel do filme está posto. Basta ver. E mesmo se uma pessoa só assistisse, ele já ia estar cumprindo esse papel.


Mediador: Eduardo Souza (Editor da Revista Zé Pereira)
Debatedores: Emilio Gallo (Diretor), Ricardo Rezende (Padre)

Um filme de família


Revisitar 68 anos de uma carreira não é uma tarefa fácil - fazer isso com uma personalidade multifacetada como Paulo Gracindo é ainda mais complicado. Mas o filho Gracindo Junior e os netos Daniela e Pedro se reuniram e montaram "Paulo Gracindo - O Bem Amado", um documentário que conta a trajeitória do eterno Odorico Paraguaçu, afinal, ninguém melhor que a família para contar a história de uma lenda da cultura brasileira.
- Era o sonho secreto de todos nós, da família inteira - contou o diretor Gracindo Junior.

Um sonho, aliás, que foi alcançado na raça. Gracindo Junior não tinha recursos para iniciar a produção e começou tirando dinheiro do próprio bolso para realizar "a sua produção familiar". Nesse ritmo, "Paulo Gracindo - O Bem Amado" acabou levando três anos para ser produzido. Mas depois da carreira por festivais no Amazonas e em Barcelona, o documentário entra em circuito em janeiro de 2009 no Grupo Estação. Um DVD também deve ser lançado pela Biscoito Fino no ano que vem com mais da história do artista.


Mediador: Andrea França (Crítica de cinema e professora da PUC)
Debatedores: Gracindo Junior (Diretor e roteirista), Daniela Gracindo (Produtora), Carla Domingues (Analista de Programação do Canal Brasil)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

"Verônica": um pouco da realidade brasileira


A atriz Andréa Beltrão e a equipe do filme "Verônica" estiveram no Pavilhão do Festival nessa terça-feira (07/10). A trama conta a história de uma professora de uma escola pública que precisa salvar um menino de 8 anos perseguido por policiais corruptos. O diretor Maurício Farias, que é casado com Andréa, falou que a situação do país o motivou a fazer o longa.
- Eu quis falar dos heróis anônimos que estão pela cidade e que, às vezes, para preservar uma ética, têm que lutar contra tudo e todos, até mesmo agindo contra a lei.

Orçado em 700 mil reais, "Verônica" tem como ponto-chave a relação emocional entre a personagem-título e o menino Leandro (Matheus de Sá). Andréa Beltrão contou que manteve uma relação de muita cumplicidade com Matheus, descoberto em um grupo de teatro amador da cidade fluminense de Araruama.
- Ele é muito irônico, muito adulto pra idade dele. Ele foi muito empenhado, desejo muitas alegrias pra ele.

Além dos detalhes da produção, filmada na comunidade de Rio das Pedras e no Largo do Machado, o público debateu com a mesa a necessidade de se levar ou não a realidade às telas. O atual patamar do cinema como arte de massa também foi questionado - especialmente pelos altos preços dos ingressos.
- O cinema se elitizou e ele não nasceu para isso. Ele era uma arte democrática no século XX e se perdeu - opinou o professor da faculdade de cinema da UFF João Luiz Vieira.


Mediador: João Luiz Vieira (Depto. de Cinema e Vídeo UFF)
Debatedores: Silvia Fralha (Produtora-executiva), Maurício Farias (Produtor e diretor), Bernardo Guilherme (Roteirista), Andréa Beltrão (Atriz)

Apenas o começo

Érika Mader, Matheus Souza e Gregório Duvivier

"A água é de graça, né?". Foi esse o tipo de declaração que pontuou o animado debate de "Apenas O Fim", uma das revelações do Festival do Rio 2008. A pergunta capciosa é de Matheus Souza, diretor do primeiro longa-metragem totalmente produzido por alunos da PUC-RIO, um aficcionado por cultura pop que não hesitou em colocar muito de si em sua estréia no cinema.
- Tudo no filme é autobiográfico porque tudo é uma visão que eu construí sobre a vida.

A trama, uma simples história de amor que não dá certo, tem seus méritos na construção de um roteiro baseado em tiradas surpreendentes bem à moda de Richard Linklater ("Antes do Pôr-do-Sol") e Charlie Kaufman. O roteirista de "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" - que também esteve na programação do Festival do Rio com seu filme de estréia "Sinédoque, Nova York" -, é uma referência assumida de Matheus, que também assina o roteiro que começou a escrever quando ainda estava no 3º período da faculdade de cinema.

As três semanas divertidas de filmagem de "Apenas O Fim", que custou apenas 7 mil reais, no campus da PUC deram origem a muito mais que apenas um filme, mas a uma grande rede de amigos. Toda a equipe, formada por 40 alunos de cinema, comunicação, história, letras e design, virou uma grande família e isso foi bastante enfatizado pelos atores e pelo próprio público que encheu o Pavilhão do Festival - boa parte dele formado por esses novos amigos.
- Eles hoje são meus melhores amigos - resumiu Érika Mader, intérprete de Adriana.

"Apenas O Fim", elogiado por gente do calibre do diretor Domingos de Oliveira, já tem um futuro no circuito de exibição. Além de estar na Mostra São Paulo de Cinema, o longa do estreante Matheus Souza vai ser distribuído pelo Grupo Estação.


Mediador: Sergio Motta (Coordenador de Teatro e Cinema do CCJF)
Debatedores: Matheus Souza (Diretor), Julia Ramil (Produtora), Érika Mader (Atriz), Gregório Duvivier (Ator)

A viagem etílica em Minas Gerais

Uma paixão nacional foi destaque no Cine Encontro desta segunda-feira (06/10). O documentário "Estrada Real da Cachaça" dialoga com o universo da única bebida genuinamente nacional. O diretor Pedro Urano conversou com o poeta Sergio Cohn sobre o processo de produção e de filmagem, muito centrado no norte de Minas. Pedro não nega que seu filme revisita alguns clichês relacionados ao terceiro destilado mais consumido no planeta - como o Candomblé - , mas lembrou que seu filme não é didático.
- O filme não é um elogio à cachaça, ele não se limita a isso. Tentamos costurar uma rede de sentidos que foram surgindo de forma instintiva.

"Estrada Real da Cachaça" teve sua primeira exibição no Festival de Locardo, na Itália, e nos próximos meses vai passar por mostras na Argentina e na República Tcheca.


Mediador: Sergio Cohn (Poeta)
Debatedor: Pedro Urano (Diretor)

Pelos poderes da Gibson

Arnaldo Baptista e o diretor Paulo Henrique Fontenelle


"Loki", o primeiro longa-metragem produzido pelo Canal Brasil, tem como foco a vida e a obra de Arnaldo Baptista, um dos cérebros dos Mutantes - uma das bandas brasileiras de maior reconhecimento internacional. A controversa trajetória do músico, que já foi marido de Rita Lee, quase morreu em um manicômio nos anos 80 e acredita em disco-voadores, foi destrinchada por Paulo Henrique Fontenelle em um longa que não vai entrar em cartaz, sendo só um aperitivo para uma série de documentários para a TV sobre o artista.
- O filme se propõe a ser uma grande homenagem ao Arnaldo. Há a sensação de que a gente devia esse filme a ele - explicou André Saddy, produtor-executivo do Canal Brasil.

O fim da banda, as lendárias brigas entre Arnaldo e o companheiro de palco - e irmão - Sérgio Dias, o famoso casamento, drogas... Os fãs que compareceram em peso ao Pavilhão do Festival para prestigiar o ídolo de uma geração não deixaram a oportunidade passar e perguntaram sobre muitas polêmicas da vida do autor de "Será Que Eu Vou Virar Bolor?".

Mas o admirador assumido de Jack Bruce (ex-baixista do The Cream de Eric Clapton) queria mesmo era falar de música e dos baixos Gibson. Grande estudioso, Arnaldo Baptista preferiu dar uma aula sobre sua paixão maior em vez de comentar certos assuntos. Coisa comum a um artista total que respira arte, tocando, compondo, escrevendo e que ainda tem tempo para pintar quadros e camisetas.
- Criar foi a sobrevivência dele. Ele está sempre se curando através da arte e da capacidade de continuar criando - comentou Paulo Henrique Fontenelle.


Mediador: Ricardo Shott (Jornalista - Jornal do Brasil)
Debatedores: André Saddy (Produtor-executivo), Paulo Henrique Fontenelle (Diretor), Arnaldo Baptista

Malu Mader Fala sobre seu primeiro filme no Cine Encontro

Mini Kerti, Tatiana Monassa e Malu Mader

Malu Mader e Mini Kerti, diretoras “Contratempo” estiveram presentes nessa quarta no Cine Encontro para falar sobre o documentário. O debate começou com as diretoras falando sobre o início do projeto, que teve o amor à música como ponto de partida. Elas uniram forças e começaram a pesquisar sobre o projeto Villa-Lobinhos, do qual Malu é madrinha. A partir daí, foram atrás dos personagens e o longa começou a se desenhar.
- A música é o que percorre o filme todo, mas a questão social também passou a nos nortear - disse Mini.


Mediador: Tatiana Monassa (Editora da revista online Contracampo)
Debatedores: Malu Mader (Diretora) e Mini Kerti (Diretora)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A crise de uma geração

Catarina Accioly, Caroline Abras, Luiza Mariani, João Miguel,
Cauã Reymond, Ronaldo Guedes e José Eduardo Belmonte

José Eduardo Belmonte trouxe à baila, numa tarde quente de primavera, toda a complexidade da geração em crise de "Se Nada Mais Der Certo" para um bate-papo denso entre o elenco e o público no Pavilhão do Festival. Na trama, os personagens se vêem sem perspectivas de vida, envolvidos num submundo, à princípio, sem volta.

O também diretor de "A Concepção" (2006), afirmou que "a vontade de entender o outro" foi o mote para escrever o roteiro do drama, que levou três anos para ficar pronto. Discursando sobre a vida, Belmonte afirmou ainda buscar viver, através do cinema, a realidade de uma vida não-linear que é comum a todos.
- Não faço discurso sociológico dos personagens. É mais uma coisa psicológica, humanista.

Além de destacar a amizade no set, o elenco foi unânime ao elogiar o método de direção dos atores de Belmonte, muito baseado na improvisação. O ator Cauã Reymond admitiu ter tido dificuldades para entrar no ritmo do também diretor de "A Concepção", mas que a experiência foi muito enriquecedora.
- Pra mim, foi uma libertação em certos momentos procurar chão e não achar, encontrar apenas o vazio - filosofou.


Mediador: Daniel Schenker (Crítico de cinema)
Debatedores: José Eduardo Belmonte (Diretor), Caroline Abras (Atriz), Cauã Reymond (Ator), Luiza Mariani (Atriz), João Miguel (Ator), Adriana Lodi (Atriz), Ronaldo Guedes (Produtor), Catarina Accioly (Coordenadora de Finalização), André Lavenére (Diretor de fotografia)

A Tijuca invade o Pavilhão do Festival

Um tijucano aportou no Cine Encontro nesta segunda para falar de um filme muito inspirado nas suas origens. "Praça Saens Peña", dirigido por Vinicius Reis, conta a história de uma família de classe média moradora de um dos bairros mais tradicionais do Rio. Para o roteiro de seu primeiro longa-metragem de ficção, modificado 10 vezes até chegar à versão final, Vinicius se inspirou na própria vida.
- Queria retratar a realidade de uma outra classe média e não aquela que todos conhecem. E também colocar nas telas um pouco da minha história, já que fui criado na Tijuca.

O paulistano de nascimento criado entre as ruas do bairro contou ainda no Pavilhão do Festival que a idéia era filmar a história no Metrô, mas por falta de acordo com a diretoria da empresa, a produção foi para a superfície. E quem ganhou, claro, foram os tijucanos, que puderam se ver nas telas.


Mediador: Rodrigo Modenesi (Profissional Liberal especializado em Cinema)
Debatedores: Vinicius Reis (Diretor), Lili Rose (Pesquisadora), Isabela Meireles (Atriz) e Luis Vidal (produtor)

Subindo o morro sem descer a ladeira


A descontração marcou o bate-papo sobre o documentário "Morrinho - Deus Sabe Tudo Mas Não É X-9", que mostra a trajetória do projeto Morrinho - uma imensa maquete do Morro do Pereirão, em Laranjeiras.

Para o diretor Fábio Gavião, os 8 anos em que acompanhou o trabalho dos então adolescentes do Projeto os tornou uma grande família. O também diretor Markão Oliveira completou dizendo que s experiência foi muito gratificante, já que os meninos os ensinaram sobre as comunidades e favelas. Fábio também destacou a mensagem positiva que o filme transmite.
- Esperamos que esse filme sirva de janela para que possamos ampliar o projeto.


Mediador: Charles Feitosa (Filósofo)
Integrantes: Markão Oliveira (Diretor), Fábio Gavião (Diretor), Raniere Dias (Elenco), José Carlos “Junior” (Elenco) e Nelcirlan de Oliveira (Elenco)

Encontro de Pesquisadores discute conservação da memória do cinema


O Encontro do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro 2008 ocorrido no último sábado debateu a recuperação de "O Segredo da Múmia", filme de 1982 dirigido por Ivan Cardoso que quase foi perdido em mais de 25 anos de existência. O presidente da Labocine, Francisco Moreira, responsável pela restauração da película, contou um pouco sobre o custoso processo de recuperação do negativo, que por estar ainda em bom estado, facilitou a fabricação de uma nova matriz.

O diretor Ivan Cardoso lembrou a importância do ator-protagonista Wilson Grey, a quem definiu como "a encarnação do cinema nacional". "O Segredo da Múmia", que levou 5 anos para ser concluído, ganhou prêmios em festivais internacionais e teve repercussão no exterior. Mas para o Ivan, o momento mais marcante foi a reação do inventivo diretor americano Samuel Fuller que, espantado com o que havia acabado de ver, não hesitou em exclamar "uma múmia no Brasil... isso é cinema!".


Mediadora: Solange Stecz (Coordenadora de Núcleo do CPCB-Paraná)
Integrantes: Ivan Cardoso (Diretor do filme), Carlos Augusto Brandão (Coordenador - CPCB), Francisco Cardoso (LaboCine), Myrna Brandão (Presidente - CPCB) e Ricardo Miranda (Montador do filme)

Trabalhando entre amigos

João Pimentel, Xico Chaves e Marco Abujamra

Um bate-papo entre amigos fechou o Cine Encontro desta sexta-feira (03/10). Os diretores de "Jards Macalé - Um Morcego na Porta Principal" e o artista plástico Xico Chaves conversaram informalmente sobre a concepção e a obra de um dos mais complexos artistas nacionais, o cantor, violonista e compositor Jards Macalé.

Ícone da contracultura, Jards Macalé esteve presente no nascimento dos mais marcantes movimentos artísticos da história recente do Brasil. A pluralidade do "Forrest Gump" brasileiro se traduziu em um longa de linguagem fragmentada mas que ainda assim tem cara de documentário. O jornalista João Pimentel - e também vizinho do autor de "Vapor Barato" - destacou a personalidade ímpar do amigo.
- Seria mais fácil fazer um filme sobre qualquer personalidade brasileira como o Caetano ou o Gil devido a diversidade de identidades que o "Macal" incorpora.

Além da arte pluralista de Jards Macalé, Xico Chaves e os diretores João Pimentel e Marcos Abujamra não esqueceram de questionar a força política que o compositor tem como porto de resistência às convenções e ao sistema social. Nem das divertidas histórias que recentemente envolveram Macalé, como o boato que surgiu na internet dando conta de sua morte ou ainda o fato de o também fundador do tradicional bloco Suvaco do Cristo ter aparecido na premiére do documentário usando um bigode para "não ser reconhecido", segundo suas palavras.
- A vida do Macalé é um circo - resumiu João Pimentel.


Mediador: Xico Chaves (Artista plástico)
Debatedores: Marco Abujamra (Diretor), João Pimentel (Diretor)

A cura para chagas cotidianas

Pedro Strozenberg, Alfredo Sabbagh, Estevão Ciavatta
Roberto Flores, Damian Platt e Rodrigo Pimentel

A violência urbana voltou a ser assunto no Cine Encontro. O diretor Estevão Ciavatta ("O Veneno..."), o responsável pela produção colombiana "Feridas" Roberto Flores, o produtor e diretor do Centro de Audiovisual da Universidad del Norte Alfredo Sabbagh, o escritor Rodrigo Pimentel e o especialista em Direito Público Pedro Strozenberg falaram na última sexta-feira (04/10) sobre um dos piores pesadelos do carioca: o estado de guerra em que a cidade vive há anos.

Estevão Ciavatta e o colombiano Roberto Flores traçaram comparativos entre a realidade da guerrilha urbana do Brasil e da Colômbia. Flores falou da difícil situação político-social enfrentada por seu país, que há mais de 50 anos convive diariamente com o conflito armado entre militares e guerrilheiros. O diretor de "Feridas" também revelou que seu longa de ficção não foi bem visto no país por tratar dos combates e que esse seria um dos fatores que contribuem para a manutenção do conflito - a sociedade colombiana ainda reluta em falar do assunto.

Estevão Ciavatta comparou os dois países e lembrou que as políticas brasileiras de segurança pública são muito diferentes das colombianas e que, apesar dos recentes bons resultados, Bogotá e Medellín, as cidades retratadas em seu "O Veneno...", não são ilhas de segurança.
- Acho que foi o lugar mais perigoso que já fui na vida.

O escritor e capital reformado da PM Rodrigo Pimentel fez duras críticas à polícia brasileira e também à própria sociedade brasileira que apóia a política de enfrentamento do Estado sem perceber que a violência tem raízes mais profundas.
- No Rio, as pessoas estão aplaudindo uma cultura da morte. Mas essa polícia que aplaudimos começou a nos atingir também. Somos culpados por ela.


Mediador: Pedro Strozenberg (Especialista em Direito Público)
Debatedores: Estevão Ciavatta (Diretor - "O Veneno e O Antídoto"), Roberto Flores ("Feridas"), Alfredo Sabbagh (Produtor - "Feridas"), Damian Platt (AfroReggae) e Rodrigo Pimentel (Escritor e roteirista)

domingo, 5 de outubro de 2008

Como fazer cinema com 80 mil reais

Atores, produtores e o diretor do longa "Vingança"

Mediado pelo próprio diretor do filme, Paulo Pons, o debate sobre o suspense "Vingança" girou em torno da economia da indústria cinematográfica brasileira. Assim como outros realizadores que passaram pelo Pavilhão do Festival, Pons criticou a política de fomento do cinema e o orçamento feitos pelo cineastas das produções nacionais . "Vingança" foi custeado pela RioFilmes com apenas 80 mil reais e teve muito destaque no Festival de Gramado 2008 além de uma premiére lotada no Festival do Rio. O sucesso de um longa que custou tão pouco foi explicado pelo diretor pela vontade da equipe em fazer cinema, numa sinergia total.

A equipe de "Vingança", todos funcionários e sócios da produtora Pax Filmes, tem planos ambiciosos de fazer mais três filmes nos próximos anos - "Espiral", o segundo, já está em fase de pré-produção. O segredo, segundo Pons, é otimizar os custos ao máximo reduzindo pessoal e buscando materiais e equipamentos mais baratos. "Vingança" foi filmado 100% em HD e montado no Final Cut, um dos mais simples softwares de edição de vídeo.
- É possível fazer filme barato. O orçamento não é uma coisa proibitiva. O que falta nas pessoas é ter boas idéias.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Selton Mello traz ao Cine Encontro a emoção de um estreante

"Visceral". Como bem disse a veterana Darlene Glória durante o debate de "Feliz Natal", nenhuma outra palavra poderia resumir melhor o teor do encontro entre a equipe do primeiro longa-metragem dirigido por Selton Mello e dos espectadores que praticamente lotaram o auditório do Pavilhão do Festival. O clima de emoção esteve no ar todo o tempo. Visivelmente tenso, Selton falou pouco e se emocionou várias vezes.
- A ficha ainda não caiu. Estou muito emocionado com tudo que ta acontecendo. Ainda estou acordando pra isso – disse, com os olhos marejados.

A emoção deu o tom das declarações da equipe e elogios rasgados ao ícone do novo cinema brasileiro não foram poupados. Muito ligado à preparação de atores, Selton, além de dirigir, escreveu o roteiro, produziu o filme e ainda participou da montagem e de outras áreas da produção – privilégio que não foi reservado apenas a ele.
- O Selton sempre soube o que queria. Existia uma unidade na qual todos eram responsáveis pelo filme – resumiu Paulo Guarnieri, intérprete de Theo.

Nas ondas da memória


Um bate-papo no qual parecia que todos se conheciam há décadas. Esse foi o clima no Pavilhão do Festival durante o debate sobre o documentário “Cantoras do Rádio”. Nos muitos momentos divertidos da conversa, a "rainha do Baião" Carmélia Alves até adotou publicamente, entre risos, o diretor Gil Baroni como filho.

As recordações de um tempo bom, a base afetiva de "Cantoras do Rádio", também vieram à tona. Carminha Mascarenhas lembrou de uma época de glamour, quando era habituada a perfumes franceses e roupas caras. A eterna diva ainda elogiou a equipe do doc por recriar fidedignamente os anos 50.

A produtora Laura Dalcanale alfinetou a questão dos direitos autorais, já que algumas imagens importantes não puderam ser usadas por falta de autorização.
- Não adiantava ter imagens cedidas porque precisávamos dos direitos das imagens. As pessoas não autorizam e isso prejudica o andamento do filme.


Mediadora: Cininha de Paula (Consultora Artística)
Integrantes: Gil Baroni (Diretor), Laura Dalcanale (Produtora), Carmélia Alves (Cantora do Rádio – elenco), Ellen de Lima (Cantora do Rádio – elenco) e Carminha Mascarenhas (Cantora do Rádio – elenco)

Fãs discutem a trajetória de Wilson Simonal

Calvito Leal, Roberto Berliner, Micael Langer e Rodrigo Letier

O fim de um astro injustiçado pautou uma apaixonada conversa no Pavilhão do Festival do Rio. "Simonal - Ninguém Sabe O Duro Que Eu Dei", documentário dirigido por Calvito Leal, Micael Langer e pelo Casseta Cláudio Manoel, conta a ascensão e queda de um dos mais polêmicos artistas da música popular brasileira que há décadas desperta controvérsias.

O debate não poderia ser diferente. O encontro dos diretores Calvito Leal e Micael Langer, do produtor Rodrigo Letier e do cineasta Roberto Berliner com uma uma platéia de fãs do autor de sucessos como "Mamãe Passou Açúcar Em Mim" foi um dos mais acalorados do Cine Encontro.

Uma das questões cabais da cultura brasileira - era ou não Simonal um delator da ditadura? - foi o centro da discussão realizada depois da segunda exibição de "Ninguém Sabe O Duro Que Eu Dei" no Cine Odeon BR.
- O que nos motivou em fazer esse filme foi o mistério. Sempre tinha uma peça do quebra-cabeças que não se encaixava - explicou Micael.


Mediador: Roberto Berliner (Cineasta)
Debatedores: Calvito Leal (Diretor), Micael Langer (Diretor), Rodrigo Letier (Produtor)

Uma história em imagens

Marco Aurélio Marcondes
e a equipe de "Titãs - A Vida Até Parece Uma Festa"

O encontro da equipe de "Titãs - A Vida Até Parece Uma Festa" foi pautado pela qualidade técnica do documentário sobre uma das bandas mais importantes do rock brasileiro. Fã dos Titãs desde os anos 80, o diretor Oscar Rodrigues Alves contou que sempre quis fazer um filme que contasse a história dos Titãs mas com um formato não-convencional. Jornalista por formação, ele explicou que optou por "não contar uma história com entrevistas", mas histórias em imagens dos integrantes da banda de forma não-linear.

Das mais de 200 horas de material de arquivo reunidas durante seis anos de pesquisa, Oscar, que divide a direção de "Titãs..." com o vocalista Branco Mello, fez um filme de extrema qualidade técnica mesmo com um ponto que poderia desfavorecê-lo: o documentário é recheado de imagens antigas - boa parte delas, amadoras.

A produtora Maria Clara Fernandez afirmou acreditar que "Titãs - A Vida Até Parece uma Festa" deu uma importante contribuição ao cinema devido à técnica empregada no longa. Os finalizadores José Augusto de Blasiis e Paulo Saias relataram o tortuoso caminho para alcançar o resultado positivo, o que incluiu técnicas sofisticadas de recuperação de fotogramas como mudanças de mídia e correções de cor e ainda mixagem e limpeza do áudio de algumas gravações.

José Augusto parafraseou a banda para resumir o processo:
- O material desse filme é o melhor VHS de todos os tempos da última semana.


Mediador: Marco Aurélio Marcondes (Distribuidor - MovieMobz)
Debatedores: Oscar Rodrigues Alves (Diretor), Maria Clara Fernandez (Produtora), José Augusto De Blasiis (Finalizador e especialista em Cinema Digital), Paulo Saias (Finalizador)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

"Me sinto absolutamente jovem"

Aderbal Freire Filho, a mediadora Beatriz Guimarães
e o diretor Domingos de Oliveira


Um dos maiores diretores do cinema nacional, Domingos de Oliveira e a equipe do filme "Juventude" conversaram com o público no Pavilhão do Festival no último dia 30. O tema do bate-papo? Cinema, e juventude, claro.

O 13º filme da carreira do diretor nasceu da vontade dele de trabalhar com os companheiros de longa data Paulo José e Aderbal Freire Filho. O trio, que na história atuam como os antigos camaradas que se reencontram depois de 50 anos de afastamento, foi baseado na relação do próprio Domingos com dois amigos que ele fez há mais de quatro décadas, apesar de cada personagem ter também um pouco de seus intérpretes.

Um dado curioso de "Juventude" é que o filme marca a estréia como ator, aos 67 anos, do consagrado diretor teatral Aderbal Freire Filho, responsável por grandes sucessos do teatro como o recente "Hamlet", com Wagner Moura, em cartaz em São Paulo.
- O grande contentamento desse trabalho é poder ser o outro que eu não fui - admitiu Aderbal, revelando um certo arrependimento por não ter seguido a carreira de ator.

"Juventude" custou 800 mil reais e foi rodado em 22 dias em uma mansão em Itaipava. Sobre o trabalho com Domingos de Oliveira, a produtora Renata Paschoal revelou que o diretor de "Todas as Mulheres do Mundo" tem um método nada convencional de filmar: ele sempre muda tudo na última hora. Negando que faça um cinema improvisado, porém, Domingos afirmou trabalhar de um modo bem pensado "que está sempre pronto para aproveitar as oportunidades do acaso".

Em meio a tiradas bem-humoradas, o diretor, que além de atuar também assina a trilha sonora de "Juventude", ainda elogiou a nova geração do cinema nacional, mas criticou a política audiovisual do país.
- Fazer cinema no Brasil é difícil, você faz um filme de 3 anos em 3 anos, quando já perdeu a vontade de fazê-lo. E o que a Lei Rouanet fez pelo cinema? Influenciou orçamentos, tirou os produtores da realidade econômica e divorciou o cinema do público. O cinema brasileiro é um absurdo, nem os filmes caros nem os baratos dão lucro.

Visionário, ele também enfatizou a importância do cinema digital no futuro, mas alfinetou os cursos de cinema ao dizer que só se aprende o ofício fazendo, apesar de concordar com Aderbal Freire Filho a respeito de as faculdades serem importantes para a formação artística dos futuros cineastas.

E sobre a idade, do alto de seus 72 anos, Domingos não hesitou:
- A carcaça pode estar um pouco velha, mas eu me sinto absolutamente jovem.


Mediador: Beatriz Guanabara (Jornalista TV Brasil)
Debatedores: Domingos Oliveira (Diretor), Aderbal Freire Filho (Ator), Renata Paschoal (Produtora), Miguel Ornica (Ator)

Retratos da realidade carioca


Falar da violência no Rio de Janeiro é pauta obrigatória nos jornais do país. Mas como é noticiar esses fatos, cobrir o estado extra oficial de guerra que a cidade vive? Para responder a essa questão, Guillermo Planel e Renato de Paula filmaram "Abaixando a Máquina", documentário que investiga o cotidiano dos fotógrafos dos principais periódicos cariocas. Os diretores do doc, fotógrafos dos jornais O DIA, Extra e O Globo e o professor da UFRJ Evandro Ouriques debateram o tema e a função social desses profissionais que são os olhos da sociedade.

Domingos Peixoto (O Globo), Severino Silva (O Dia), Wilton Junior (Agência Estado) e Berg Silva (O Globo) falaram sobre as dores da profissão e o papel do jornalismo na busca pela verdade na sociedade. Todos foram enfáticos ainda ao mencionarem que a realidade do trabalho do fotojornalista é dura, mas que o sentimento de dever cumprido é sempre recompensador.
- Como diz o poeta, a nossa dor não sai no jornal. Mas toda vez que nós pensamos em desistir, acontece alguma coisa que nos faz continuar - explicou Domingos, que tem 15 anos de profissão.

Para o professor Evandro, "Abaixando a Máquina" - já bastante conhecido no circuito universitário - finalmente deu a oportunidade de a sociedade ouvir a voz dos fotógrafos.
- Um dos grandes méritos do filme é mostrar que o fotógrafo não é uma máquina de tirar fotos, mas um ser humano que se expressa através da fotografia.


Mediador: Evandro Ouriques (Professor e Coordenador do Núcleo de Estudos de Comunicação e Consciência – JPPS – UFRJ)
Debatedores: Guillermo Planel (Diretor e roteirista), Renato de Paula (Diretor), Domingos Peixoto (Fotógrafo O Globo), Severino Silva (Fotógrafo O Dia), Wilton Junior (Fotógrafo Agência Estado) e Berg Silva (Fotógrafo O Globo)

O lirismo de Matheus

A equipe e Luis Carlos Merten no Cine Encontro


Dono de uma gargalhada inconfundível, Matheus Nachtergaele veio ao Pavilhão do Festival do Rio conversar com o público sobre "A Festa da Menina Morta", sua estréia na direção, que traz Daniel de Oliveira e Dira Paes no elenco. O ator e agora diretor filosofou sobre o material que produziu em Barcelos - cidade de 30 mil habitantes a 400km de Manaus - sobre a própria humanidade e o absurdo da fé. Polêmico, iniciou o debate bombardeando a plátéia:
- Sou ateu graças a Deus, que não existe.

Entre citações de Marguerite Duras e do diretor espanhol Luis Buñuel, Matheus analisou o fenômeno do sincretismo religioso brasileiro que o estimulou na elaboração de "A Festa da Menina Morta" e ainda relatou todo o processo de produção de seu primeiro longa, orçado em 2,4 milhões de reais. Edneusa Sahdo e Rosa Malagueta, estreantes no cinema e descobertas por Matheus em um workshop em Manaus, também estavam presentes na mesa e falaram sobre o contentamento em participar da produção.

O intérprete de João Grilo ("O Auto da Compadecida") também ressaltou a importância da Amazônia e da cultura indígena para o país, além de classificar como obscuro o momento atual do cinema brasileiro.

E antes de partir, uma última gota de sabedoria sobre a morte, tema recorrente na película de Matheus:
- Alguma coisa é poupada do fato que a gente morre. O ser humano é uma tentativa desesperada de sobrar.


Mediador: Luis Carlos Merten (Jornalista e Crítico de Cinema)
Debatedores: Matheus Nachtergaele (Diretor), Vânia Catani (Produtora), Renata Pinheiro (Diretora de Arte) e atrizes amazonenses

"A complexidade do turismo sexual"

O debate sobre o documentário “Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado” foi marcado pelo tema racismo e preconceito. A escritora Cidinha da Silva lembrou que o bairro sede do Pavilhão do Festival, a Gamboa, era há alguns séculos um cemitério clandestino de negros.

O filme faz um caminho do turismo sexual tendo como ponto de partida o Brasil e desaguando na Europa - existem países no continente com índice de prostituição de brasileiros que ultrapassam os 60%. O documentário nasceu a partir do contato do diretor Joel Zito Araújo com a UNICEF e ONGs de apoio a mulheres exploradas sexualmente. Para Joel, o mais chocante durante a pesquisa foram os casos de tráfico internacional e exploração de crianças e adolescentes.

- "Cinderelas, Lobos e Um Príncipe Encantado" é um documentário sobre a complexidade do turismo sexual, que é um fenômeno que ultrapassa a sexualidade e esbarra em outros temas da sociedade - resume.


Mediador: Joel Zito Araújo (Diretor do filme)
Debatedores: Luis Carlos Alencar (Assistente de Direção), José Carvalho (Pesquisa e co-autoria do texto) e Cidinha da Silva (Escritora)

Por um cinema (brasileiro) mais comercial


"A gente fez um filme comercial mesmo porque fizemos com o nosso dinheiro". Apesar do clima descontraído do ambiente, a afirmação do diretor de "Rinha", Marcelo Galvão, pontuou o principal tópico discutido no encontro entre a equipe do filme e o público no Pavilhão do Festival. Em meio a curiosidades sobre a produção e as gravações de seu terceiro longa, Marcelo disparou contra a política audiovisual brasileira, lembrando que o dinheiro público tem sido aplicado em filmes sem o menor apelo popular. O diretor de fotografia Rodrigo Tavares fez coro:
- Cinema é um negócio como outro qualquer. Você tem que ouvir o seu público e saber o que ele quer. Não tem por que o cineasta pensar diferente.

"Rinha" retrata uma competição em que jovens ricos apostam dinheiro em combates entre homens de classe baixa que brigam no melhor estilo vale tudo. Apesar da temática e das cenas violentas, a grande polêmica do longa é uma questão de linguagem: o filme de Marcelo Galvão é todo falado em inglês, com algumas poucas cenas em espanhol e português. O diretor explicou que a opção declarando que o projeto visa principalmente o mercado internacional. Para alcançar esse objetivo, Marcelo e Rodrigo planejam levar "Rinha" a festivais tanto nacionais quanto fora do país, como o Sundance.

O clima de amizade entre a equipe também foi apontado como essencial para as filmagens, ocorridas durante um mês e meio. A atriz Maytê Piragibe ressaltou que fazer o filme foi como estar entre amigos. O VJ da MTV Felipe Solari, em sua estréia como ator, afirmou que a estréia de "Rinha" era um momento de concretização das amizades feitas nas filmagens.


Mediador: Marcos Petrucelli (Jornalista, crítico de cinema e editor do site e-pipoca)
Debatedores: Marcelo Galvão (Diretor), Rodrigo Tavares (Diretor de Fotografia), Marçal Souza (Produtor), Maytê Piragibe (atriz), Christiano Cochrane (ator) e Felipe Solari (ator)

3x1 - "Um Romance de Geração" e a loucura de Sant'Anna


A equipe de "Um Romance de Geração" aportou no Pavilhão do Festival no primeiro dia de outubro para um bate-papo com o público mediado pelo jornalista Luis Carlos Merten.

Para explicar seu engenhoso primeiro longa-metragem, o também crítico de cinema David França Mendes explicou a complicado montagem de "Um Romance de Geração" - com dois processos decupagem em separado -, já que o filme tem três atrizes interpretando o mesmo papel.

"Um Romance de Geração" é baseado no livro homônimo lançado em 1981 e escrito por Sérgio Sant'Anna - professor de David nos tempos da faculdade. Fã do autor, o diretor não hesitou em levar a obra de Sérgio Sant'Anna para as telas em uma produção totalmente independente.
- Pude transformar aquela loucura literária em um longa.


Mediador: Luis Carlos Merten (Crítico de Cinema)
Debatedores: David Frabça Mendes (Diretor e roteirista), Sérgio Sant'Anna (Autor), Lorena da Silva (Atriz), Susana Ribeiro (Atriz), Nina Morena (Atriz)

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Os debatedores e a platéia


O bate-papo que sucedeu a segunda sessão de "Palavra (En)Cantada" no Festival Rio - e contou com a presença da equipe do filme e de especialistas em música - abordou o diálogo entre literatura, palavra oral e música retratado no longa a partir de figuras emblemáticas da MPB como Chico Buarque e Maria Bethania.

Os produtores de "Palavra (En)Cantada" e a diretora Helena Solberg explicaram que muito da formação cultural popular vem da música e que muita gente se interessa por literatura depois de ouvir referências feitas pelos compositores a poemas e autores. Helena também destacou o momento atual de feliz união entre o cinema e a música brasileira, que nunca foi tão retratada nas telonas como hoje.

O professor de música da UFRJ Samuel Araújo polemizou ao questionar a legitimidade da MPB dizendo que ela se crê única no mundo, mas que seu processo de formação não foi diferente da construção da música popular em outros países. Samuel, entretanto, afirmou que a música nacional possui um papel singular no globo por se unir à literatura e à oralidade de forma espontânea e natural.



Mediador: Júlio Diniz (Diretor do Departamento de Letras da PUC-RJ e Professor Associado na área de estudos de literatura)
Debatedores: Helena Solberg (Diretora), David Meyer (Produtor), Marcio Debellian (Co-Produtor), Samuel Araújo (Departamento de Música e Cultura da UFRJ) e Santuza Naves (Antropóloga e especialista em música)

"Só 10% É Mentira" e a poesia icônica de Manoel de Barros

Marcio Paes, Minon Pinho e Pedro Cezar


Imagem e poesia foram o centro das atenções no debate do documentário "Só 10% é Mentira". No longa, o diretor e também escritor Pedro Cezar se focou na vida e obra do poeta Manoel de Barros, uma de suas grandes influências. Leitor do sulmatogrossense desde 1997, Pedro se disse motivado a filmar a história do autor por ser muito prazeroso falar de personalidades que ele admira, citando ainda o seu próximo projeto, um documentário sobre o surfista Fábio Gouvea.

"Só 10% É Mentira" é uma espécie de viagem imagética pela obra do autor de "Poemas Rupestres". Por isso, um dos pontos fortes do documentário é a fotografia. O diretor de arte Marcio Paes contou no bate-papo que não havia outro caminho para tratar do rico universo do poeta que não fosse por uma construção de imagens mentais. Esse foi o mote para que Pedro e Marcio concebessem um longa lírico e cativante.

- Nosso desafio era fazer um filme de poesia sem ser cabeçudo, mas também não queríamos ser meros ilustradores da poesia do Manoel - explicou Marcio.


Mediador: Minon Pinho (Produtora e Consultora Cultural e Sócia da Casa Redonda Produções)
Debatedores: Pedro Cezar (Diretor), Angélica Coutinho (Produtora Cultural) e Márcio Paes (Diretor de Arte)